Manaus/AM - A delegada Joyce Coelho revelou que a menina estuprada pelo próprio tio, dos 6 aos 10 anos, em Manacapuru, chegou a contar para a mãe e para a esposa do acusado sobre os abusos, mas foi desacreditada pela família.

"Depois de um ano, a criança esboçou contar a situação para tia. Houve uma discussão na casa, mas ele negou e a partir de então ele se tornou mais agressivo com essa criança", diz.

Segundo Joyce, o suspeito é casado com a irmã da mãe da menina e trabalha como instrutor de handebol em uma escola, em contato com várias outras crianças. 

A menina estava na casa da esposa dele porque a mãe tinha guarda compartilhada, mas precisou passar um tempo trabalhando em Manaus e deixou a filha com a avó e a tia. As mulheres incumbiram o homem de ir buscá-la na escola e foi aí que os abusos começaram, no caminho de volta para casa, a arrastava para áreas desertas e cometia o crime.

"Ela relata que a levava para o banco de trás do carro, a despia totalmente e praticava diversos abusos com ela. Por várias vezes ela chegava em casa chorando, mas ele dizia que era porque ele havia dado um carão nela por ela ter esquecido algum objeto na escola e toda família acabava dando credibilidade para o agressor".

Sem o apoio da família, a menina desistiu de contar sobre o que acontecia e passou a ser ainda mais violentada e ameaçada pelo homem.  Ele chegou a estuprá-la dentro da própria casa, no quarto e na cama da avó da vítima, sogra dele. O último abuso ocorreu quando a garota tinha 10 anos, na residência, durante um evento familiar.

A criança viveu quatro anos de terror e contou que na pandemia os abusos chegaram a parar, mas depois foram retomados, assim como as ameaças. O caso só foi descoberto porque anos depois, já adolescente de 13 anos, a vítima passou a desenvolver traumas e comportamento atípico, o que fez a família procurar ajuda profissional.

"Na adolescência a família percebeu que ela passou a apresentar comportamento estranho e a levou à uma psicóloga, foi quando ela veio e conseguiu relatar os fatos e nós fomos procurados para que a gente ouvisse essa adolescente, hoje com 13 anos, diante do terror dos fatos", diz Joyce.

O homem nega o crime, mas a polícia já recebeu informações de que ele também teria violentado um menino da família. A segunda denúncia ainda não foi formalizada, mas a polícia já apura o fato. O acusado vai responder por estupro e ameaça no caso da adolescente e deve permanecer preso. 

Para Joyce, é de suma importância acreditar na palavra das crianças, pois isso pode salvá-las. "Ela falou para mãe uma frase que muitas vítimas falam que é: 'Tia, o titio tocou aqui', apontando para a sua genitália. Isso jamais deve ser relevado, se isso fosse levado em consideração naquela época, quando abusos teriam sido evitados? Porque o trauma, ela vai levar para a vida toda", alerta.

O homem tem três filhos, adolescentes e adultos e ainda conviva com a esposa como se nada tivesse acontecido.