Trump ameaça Rússia com envio de 2 submarinos nucleares

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou nesta sexta-feira (1º) o envio de dois submarinos nucleares para posições próximas da Rússia, numa inesperada escalada de sua disputa verbal com o ex-mandatário russo Dmitri Medvedev.
Expoente da linha-dura do governo Vladimir Putin, mas sem poder decisório algum em sua cadeira de número 2 do Conselho de Segurança da Rússia, Medvedev vinha criticando abertamente Trump pelo ultimato dado para o presidente russo aceitar uma trégua na Guerra da Ucrânia.
Após dizer que a medida flertava com uma guerra nuclear, Medvedev afirmou na quinta (31) que os EUA deveriam lembrar que a Rússia segue com suas capacidades de ataque nuclear oriundas dos tempos em que era o centro da União Soviética. Trump respondeu classificando Medvedev de "ex-presidente fracassado".
"Com base nas declarações altamente provocativas, ordenei que dois submarinos nucleares fossem posicionados nas regiões apropriadas, apenas por precaução, caso essas declarações imprudentes e inflamadas sejam mais do que meras palavras", escreveu Trump na rede Truth Social.
"As palavras são muito importantes e muitas vezes podem levar a consequências não intencionais. Espero que este não seja um desses casos", completou. Trump não especificou, mas os EUA operam 66 submarinos com propulsão nuclear, mais do que qualquer outro planeta na terra.
Desses, 14 são os chamados SSBN, sigla naval para modelos que lançam mísseis balísticos estratégicos armados com ogivas nucleares. Outros 54 navios têm propulsão nuclear, mas não empregam armas atômicas.
A Rússia, por sua vez, opera 50 embarcações submersíveis. Dessas 12, são modelos com propulsão nuclear destinados a um conflito atômico e 19, para ataque convencional. Outros 19 submarinos de ataque têm motores diesel-elétricos.
Não há detalhes também acerca da localização dos submarinos, mas eles operam em todos os principais mares do mundo. Campos lógicos, que eram amplamente usados por embarcações americanas e soviéticas na Guerra Fria, são as águas do norte do Atlântico e do Pacífico.
A tensão, ainda que Medvedev seja visto como um agente sem influência sobre Putin desde que foi defenestrado do cargo de premiê em 2020, traz um componente novo à crise em torno da Ucrânia.
Trump voltou ao poder em janeiro disposto a aceitar termos russos para acabar com o conflito, e abriu linha direta com Putin, com quem conversou pelo menos cinco vezes ao telefone. Insatisfeito com o ritmo lento das negociações entre Kiev e Moscou, que vivem impasse, resolveu pressionar o russo.
Após críticas pontuais por algumas semanas, no meio de julho deu um ultimato de 50 dias para que Putin aceite uma trégua, sob pena de sofrer novas sanções, inclusive afetando países compradores de petróleo e derivados, como os colegas de Brics Brasil, Índia e China.
O presidente russo deixou os comentários refutando as críticas para a linha-dura e, no governo, determinou falas negando aceitar quaisquer pressão externa por parte do Kremlin e da chancelaria. Ele mesmo não criticou Trump.
Irritado, o americano reduziu a sua data-limite na semana passada, e quer uma resposta russa até a sexta que vem (8). Novamente, o porta-voz do Kremlin apenas disse que havia "tomado nota da fala", enquanto Medvedev subiu seu tom incendiário e acusou Trump de fazer um "jogo de ultimatos".
Eles já haviam se estranhado antes. Em maio, quando o americano disse que Putin "brincava com fogo" e que a Rússia "estava blindada contra coisas ruins por enquanto", o ex-presidente russo disse que a única coisa ruim que os EUA podiam fazer a Moscou seria "a Terceira Guerra Mundial".
Desde a invasão da Ucrânia em 2022, Putin usa cartas nucleares para pressionar o Ocidente a modular seu apoio militar a Kiev, inclusive ampliando a sua doutrina de emprego das armas para facilitar o uso, algo que os EUA também fizeram.
O russo congelou a participação russa no último tratado de controle de armas atômicas vigentes e, como aconteceu quando França e Reino Unido sugeriram enviar tropas de paz à Ucrânia, ameaçou diretamente os europeus com suas armas.
A Rússia tem o maior arsenal nuclear do mundo, seguida de perto pelos EUA. Juntos, os países concentram quase 90% das mais de 12 mil armas atômicas do planeta. Do lado ocidental, há vários movimentos para aumentar o potencial nuclear na Europa, como a chegada de novas bombas ao Reino Unido.
Curiosamente, Medvedev já foi visto como um modernizante e pró-ocidental nos anos em que esquentou a cadeira para Putin, que governou de 2000 a 2008 e preferiu virar premiê a disputar diretamente um terceiro mandato.
Ao fim do mandato, em 2012, Medvedev trocou de lugar com Putin, que ao fim se livrou do apadrinhado oito anos depois e, mais à frente, mudou a Constituição para poder ficar teoricamente no Kremlin até 2036.
Observadores da política do Kremlin dizem que o ex-presidente gostaria de voltar às graças do chefe, mas que isso parece difícil.

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